MBL expulsa vereador João Bettega em meio a desentendimentos e troca de acusações

Grupo diz que vereador produzia "vídeos idiotas" e que estava cada vez mais próximo do bolsonarismo.

O Movimento Brasil Livre (MBL) anunciou a expulsão do vereador João Bettega (União Brasil), eleito em Curitiba com o apoio do grupo nas eleições de 2024. A decisão foi divulgada nesta segunda-feira (6) e teve como justificativa a suposta produção de “vídeos idiotas” e uma crescente aproximação do parlamentar com o bolsonarismo. Bettega, por sua vez, rebateu as alegações e denunciou ameaças e desrespeito dentro do próprio gabinete, atribuindo sua expulsão a uma tentativa frustrada de exonerar um assessor.

Vereador João Bettega rebate acusações e diz que vai seguir com independência (Foto: Carlos Costa/CMC)
Vereador João Bettega rebate acusações e diz que vai seguir com independência (Foto: Carlos Costa/CMC)

A saída do vereador do MBL foi confirmada pelo próprio movimento por meio de nota publicada nas redes sociais. Segundo a direção do MBL, Bettega vinha se afastando dos princípios ideológicos do grupo, adotando posições e comportamentos que destoam do alinhamento liberal e reformista que o movimento defende.

“Vídeos idiotas” e aproximação com o bolsonarismo

A insatisfação do MBL com Bettega não é de agora. Integrantes do movimento vinham criticando duramente a postura do vereador nas redes sociais, especialmente a produção de conteúdos considerados “constrangedores” ou “vexatórios” — que, segundo o movimento, colocam em risco a imagem construída pelo grupo ao longo dos anos.

Na avaliação do MBL, os vídeos feitos por Bettega em ambientes públicos de Curitiba, como supermercados, hospitais e lojas representavam uma forma de atuação incompatível com o que se espera de um vereador. Além disso, o movimento citou um suposto “flerte” com setores bolsonaristas, algo que é frontalmente rejeitado pela atual direção do MBL, que se afastou do ex-presidente Jair Bolsonaro após apoiar sua eleição em 2018.

“João Bettega não representa mais os ideais do movimento. Ele se distanciou de pautas relevantes e passou a produzir vídeos idiotas e a se associar ao bolsonarismo. Isso é incompatível com a linha atual do MBL”, diz trecho da nota divulgada pelo grupo.

Bettega responde e acusa o MBL de omissão diante de ameaças

Em conversa exclusiva ao Politiza, o vereador João Bettega apresentou sua versão dos acontecimentos e afirmou que a crise se originou dentro do seu gabinete, que até então era composto por membros ligados ao MBL.

Segundo o parlamentar, os conflitos internos se intensificaram nas últimas semanas, culminando em um episódio em que um dos seus assessores teria levantado a voz dentro da sala do vereador e feito ameaças explícitas.

“Na semana passada, a situação se tornou insustentável, pois um dos meus assessores levantou a voz dentro da minha sala, falou que ele manda no gabinete e me ameaçou com a frase: ‘se não for para resolver no carinho, será no ódio’”, afirmou Bettega.

Ainda de acordo com o vereador, outras ameaças vieram de membros do MBL, com a advertência de que “coisas ruins vão acontecer”. Bettega alega que levou o caso à coordenação do movimento e solicitou a exoneração do assessor envolvido nas ameaças, mas sua demanda teria sido ignorada.

“A situação de extremo desrespeito foi levada ao MBL, mas o movimento não autorizou a exoneração desse assessor e me expulsou depois”, concluiu.

Crise expõe disputas internas e crise de identidade no MBL

A saída de Bettega evidencia uma disputa interna no MBL, que nos últimos anos passou por um processo de reconfiguração ideológica e enfrentou perdas importantes de quadros políticos. Desde a ruptura com o bolsonarismo, o movimento tenta reconstruir sua base de apoio e manter uma postura crítica ao governo Lula, sem abrir mão de uma agenda liberal na economia e institucionalista na política.

Bettega foi eleito vereador de Curitiba em 2024, com 12.346 votos, e era considerado uma das apostas do MBL para renovar sua representação institucional no Sul do país. Sua atuação, no entanto, passou a ser questionada internamente — tanto por posturas públicas consideradas inadequadas quanto por dificuldades de relacionamento dentro do próprio gabinete.

Futuro político indefinido

Com a expulsão, Bettega deixa de ter qualquer vínculo formal com o MBL, mas permanece com seu mandato na Câmara Municipal de Curitiba. Em resposta aos questionamentos, o vereador disse que seguirá atuando “com independência” e que vai continuar apresentando projetos e fiscalizando a gestão municipal.

Ainda não está claro se Bettega buscará novos apoios partidários ou movimentos políticos para se reposicionar no cenário local.

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