O governo brasileiro e a Venezuela firmaram um acordo de cooperação técnica na área agrícola um dia antes de Nicolás Maduro anunciar a concessão de 180 mil hectares ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No entanto, o Ministério das Relações Exteriores negou qualquer vínculo entre os dois eventos.
O Que Diz o Acordo?
O memorando de entendimento, publicado no Diário Oficial da União (DOU) em 12 de março de 2025, formaliza a intenção de cooperação entre os dois países em áreas como:
- Agricultura familiar e urbana
- Monitoramento agrícola e combate a pragas
- Desenvolvimento sustentável da fronteira amazônica
- Produção estratégica de alimentos (milho, café, soja, entre outros)
- Melhoramento genético de animais
A implementação dessas iniciativas será conduzida, no Brasil, por órgãos como o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Ministério da Agricultura (Mapa), a Conab e a Embrapa. O texto não menciona o MST e não prevê transferência de recursos financeiros entre os países.
Entrega de Terras ao MST na Venezuela
No dia seguinte, Maduro anunciou na TV estatal a criação da “Pátria Grande do Sul”, um projeto que, segundo ele, visa fortalecer a produção agroecológica. Como parte dessa iniciativa, o governo venezuelano entregou terras ao MST para cultivo de alimentos destinados ao consumo interno, ao norte do Brasil e à exportação.
As terras concedidas foram expropriadas na década de 2000, durante o governo de Hugo Chávez. Maduro destacou que o projeto envolve movimentos camponeses, indígenas e militares para estimular a produção agrícola no país.
Contexto e Controvérsias
A aproximação entre Brasil e Venezuela ocorre após a posse de Maduro para um novo mandato. O governo Lula tem retomado contatos discretos com Caracas, enquanto monitora a postura dos Estados Unidos em relação ao regime chavista.
Essa não é a primeira vez que um acordo entre o MST e a Venezuela gera críticas. Em 2014, um pacto semelhante foi questionado por opositores do governo Dilma Rousseff. Na época, o então deputado Ronaldo Caiado alertou que a parceria poderia representar riscos aos interesses brasileiros.
O recente entendimento entre os dois países reacende o debate sobre as relações entre Brasil e Venezuela, especialmente no setor agrícola e no apoio a movimentos sociais.