Fusão entre PSDB e Podemos avança nacionalmente, mas esbarra em conflito entre Beto Richa e Cristina Graeml no Paraná

As duas lideranças políticas trocaram farpas públicas durante as eleições de 2024

A possível fusão entre o PSDB e o Podemos, anunciada com entusiasmo pelas direções nacionais das duas siglas, promete redefinir o cenário político do centro democrático brasileiro. Mas, no Paraná, onde ambos os partidos têm lideranças fortes e históricas — e também desavenças públicas — o desafio será bem mais complexo do que a nota oficial deixa transparecer.

a jornalista Cristina Graeml e o deputado Beto Richa podem acabar no mesmo partido se a fusão entre Podemos e PSDB for confirmada (Foto: (Foto: Reprodução/ Redes Sociais e Marcelo Camargo/ Agência Brasil)

Na semana passada, a Executiva Nacional do PSDB aprovou o início das negociações formais com o Podemos, visando à unificação das legendas. A proposta, segundo a nota oficial do PSDB, é construir uma alternativa de centro capaz de furar a polarização entre lulismo e bolsonarismo. O Podemos, presidido nacionalmente pela deputada federal Renata Abreu, também emitiu um comunicado celebrando a possibilidade de fusão e destacando a convergência programática entre os partidos.

No Paraná, no entanto, a situação é menos pacífica.

Beto Richa, liderança tucana contestada

O principal nome do PSDB paranaense é o ex-governador e hoje deputado federal Beto Richa, que carrega não apenas o legado de dois mandatos no executivo estadual, mas também o peso de uma prisão durante a Operação Lava Jato. Em nota enviada à reportagem, Richa confirmou o andamento das tratativas e defendeu a união com o Podemos como algo “natural”, especialmente no estado:

“Estamos trabalhando pela construção de um centro democrático no Brasil, junto com o Podemos e outras forças, capaz de dialogar com todos os campos políticos […] No Paraná, Podemos e PSDB são próximos em princípios e visão de país, o que torna natural um futuro conjunto”, declarou o ex-governador.

A fala contrasta com o que se vê no campo político paranaense: o PSDB de Richa e o Podemos de Cristina Graeml ocupam espaços distintos — e em alguns momentos, francamente hostis.

Cristina Graeml: crítica da velha política

Jornalista e pré-candidata ao Senado Federal, Cristina Graeml é um dos principais nomes do Podemos no Paraná. Defensora ferrenha da Lava Jato e alinhada a pautas conservadoras, Graeml já travou embates públicos com Beto Richa. Em 2024, publicou críticas nas redes sociais ao ex-governador, sugerindo que ele estava alinhado ao projeto político do então adversário Eduardo Pimentel (PSD) mesmo com o histórico de denúncias. Richa respondeu em tom duro, acusando Graeml de disseminar “fake news” e “atacar para se promover”.

Esse histórico de animosidade levanta dúvidas sobre a viabilidade de uma convivência pacífica dentro de um partido unificado.

Procurada pela reportagem, Graeml preferiu não comentar a possível fusão, afirmando por meio de sua assessoria que não faz parte da Executiva Nacional. A nota acrescenta:

“Vamos aguardar a decisão final e depois analisar nossa situação no partido.”

A equação Beto + Cristina

Caso a fusão se concretize, o novo partido precisará administrar não apenas disputas ideológicas, mas também egos, históricos e ambições. Como acomodar no mesmo diretório estadual um ex-governador com pretensões de retorno ao executivo e uma possível parlamentar em ascensão que construiu sua imagem justamente combatendo figuras como ele?

A resposta, por ora, parece incerta, mas a executiva nacional do Podemos aposta no diálogo:

“Acreditamos que a soma de forças entre nossas siglas representa não apenas o crescimento de nossas estruturas, mas, principalmente, a união de propósitos e valores que colocam o interesse público acima de disputas ideológicas”, escreveu Renata Abreu.

No Paraná, onde a memória das operações anticorrupção ainda é recente e o embate entre Beto Richa e Cristina Graeml ainda ecoa nas redes, essa união de propósitos está longe de ser simples.

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