Flávia Francischini e uma vida em prol da Inclusão, Segurança e Empoderamento na Política Paranaense

Da atuação na Polícia Federal ao pioneirismo na Assembleia Legislativa: como a luta por autistas, segurança pública e direitos das mulheres moldou uma trajetória política transformadora

A trajetória de Flávia Francischini é marcada por uma forte vocação para o serviço público e um profundo compromisso com as causas sociais. Iniciando sua carreira como advogada e agente da Polícia Federal, ela sempre teve como foco a defesa dos mais vulneráveis, o que a levou naturalmente à política. Sua atuação é guiada por uma missão clara: transformar a realidade de famílias carentes, especialmente aquelas que enfrentam desafios como a falta de acesso à saúde, segurança pública e inclusão.

Atuação parlamentar de Flávia Francischini

Além disso, sua experiência pessoal como mãe de um filho autista a impulsionou a lutar por políticas públicas mais justas e eficientes, resultando em conquistas históricas, como a criação do Código Estadual do Autista no Paraná.

Eleita como a primeira mulher a ocupar a 1ª Vice-Presidência da Assembleia Legislativa do estado, ela representa não apenas uma voz ativa na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, mas também um símbolo de resistência e liderança feminina na política.

Na Exclusiva Politiza de hoje, Flávia compartilha os motivos que a levaram à vida pública, suas principais bandeiras e os desafios enfrentados ao longo de sua jornada. Ela também fala sobre os projetos que considera mais significativos, a importância da inclusão, o combate à violência contra a mulher e sua visão para um Paraná mais justo e acolhedor para todos.

 

Você iniciou sua trajetória profissional como advogada e agente da Polícia Federal. O que a motivou para fazer essa transição para a política?

“Desde o início da minha trajetória profissional, eu sempre tive uma preocupação muito grande com as pessoas mais carentes. É essa gente que mais sofre com as mazelas da sociedade. Problemas de segurança pública, que são problemas de todos, mas atingem mais as famílias mais pobres. São as pessoas que enfrentam dificuldades de todos os tipos: problemas econômicos, falta de suporte do poder público e tantas outras dificuldades. Eu entrei para a política com o intuito de servir e de ajudar essas pessoas, essas famílias… Além disso, sempre atuei na assistência social. Mesmo antes da minha estreia na política eu já fazia um trabalho social junto à diversas comunidades não só de Curitiba, mas de todo o Estado do Paraná.”

 

O diagnóstico do seu filho Bernardo foi um marco importante na sua atuação social. Como essa experiência pessoal influenciou seu trabalho e suas prioridades na política?

“O diagnóstico do Bernardo não só transformou minha vida pessoal, mas também despertou em mim um senso de responsabilidade ainda maior. Eu tive acesso ao tratamento porque tinha um plano de saúde, mas, ao chegar nos consultórios, via muitas famílias sem essa mesma oportunidade, enfrentando filas enormes e buscando desesperadamente ajuda para seus filhos. E mãe é mãe, independentemente da situação – aquilo me comoveu profundamente.

Foi nessa época que criei o Instituto Fazer o Bem Sem Olhar a Quem, justamente para apoiar essas famílias que não tinham a quem recorrer. Quando vi, já estava completamente envolvida nessa causa, lutando para garantir que nenhuma mãe precisasse implorar por tratamento para seu filho. E foi esse compromisso com a mudança que me levou à política, onde pude ampliar ainda mais essa luta, cobrando políticas públicas que realmente atendam às necessidades das pessoas autistas e de suas famílias.”

 

Você foi eleita como a primeira mulher a ocupar a 1ª Vice-Presidência da Assembleia Legislativa do Paraná. O que essa conquista representa para sua trajetória e para a participação feminina na política? E quais serão suas principais prioridades nessa nova função?

“Bom, é com muito orgulho que eu ocupo atualmente o cargo de primeira vice-presidente da Assembleia Legislativa do Paraná. Ser a primeira mulher a ocupar esse cargo mostra que nós mulheres estamos prontas para tudo. A minha eleição para esse cargo representa muito mais motivação para outras mulheres que queiram entrar na política. Sim, nós podemos ser mães, no meu caso, uma mãe atípica, podemos ser profissionais e podemos sim exercer cargos de poder da forma que os homens. Além disso, nossa sensibilidade ajuda e muito nas articulações política, na construção dos consensos. A atual legislatura tem um número maior de mulheres e isso tem sido uma evolução muito grande da política brasileira. Isso tem acontecido em outros estados também e as mulheres estão cada vez mais atuantes em todos os setores da política. Isso é motivo de comemoração. Como primeira vice-presidente da Assembleia, meu principal objetivo é promover discussões que de fato façam a diferença na vida das pessoas. Esse é o meu propósito na política e será meu propósito por onde eu passar. Mas uma outra pauta que eu defendo com unhas e dentes é o combate à violência contra a mulher. Precisamos muito avançar nesse tema e esse é um dos meus principais desafios atualmente. O número de feminicídios e de casos assustadores de violência só aumenta. Essa é uma realidade que precisamos mudar.”

Atuação Parlamentar e Principais Conquistas

Quais foram os maiores desafios e aprendizados na sua atuação como vereadora em Curitiba?

“Os desafios sempre são inúmeros. A própria situação das pessoas mais carentes da cidade é um grande desafio. São tantas prioridades que na hora de focar em um projeto e lutar por ele, a cabeça da gente dá um nó. Mas, ao mesmo tempo, ver algo que você idealizou sair do papel e beneficiar a população enche o nosso coração de alegria. Eu aprendi a escutar as pessoas com atenção e entender a dificuldade delas. Aprendi que política é união de forças em prol de uma sociedade mais justa, mais inclusiva e mais acolhedora para todas as pessoas. Tive a alegria de propor, tramitar e aprovar vários projetos na área do cuidado com as pessoas, como o Alerta Ambar, que visa o resgate rápido de crianças desaparecidas, e o Rodas de Conversa, que leva informação e amparo para famílias atípicas, dentre tantos outros. Tudo isso foi feito ouvindo a população, principalmente minhas mães das comunidades, onde já realizava um trabalho de antes da política.”

 

Entre os projetos e pautas que você defende, há algum que considere sua maior conquista até o momento?

“A minha maior conquista é, sem dúvida, o Código Estadual do Autista. O Paraná é pioneiro nessa iniciativa, e o código é fruto de um trabalho intenso de escuta e construção coletiva. Realizei diversas reuniões com famílias, instituições e gestores públicos para entender as principais demandas e, a partir disso, transformamos essas necessidades em um projeto de lei que resultou na primeira legislação estadual voltada especificamente para os autistas no Brasil.

Para que esse código saísse do papel com a urgência que a causa exige, lutei para que sua tramitação fosse célere e eficiente. Além disso, implementei várias leis dentro da estrutura do código, garantindo que ele fosse realmente abrangente e eficaz. Um dos pontos mais importantes que conseguimos incluir, e que é uma lei de minha autoria, é a garantia de tratamento não apenas para os autistas, mas também para suas famílias. Sabemos o quanto a rotina de quem vive essa realidade é desafiadora e exaustiva, e oferecer suporte psicológico e terapêutico para mães, pais e cuidadores é fundamental para que possam seguir firmes nessa jornada.

Meu gabinete sempre foi reconhecido como o gabinete do autismo, porque essa é a minha causa e meu propósito de vida, não apenas uma “onda” que está em alta e que muitos políticos oportunistas tentam usar para fazer imagem. Essa luta não começou agora, e quem me acompanha sabe do meu compromisso real com as famílias atípicas. Minhas mães atípicas sempre recorreram a mim, porque sabem que aqui encontram empatia, acolhimento e, principalmente, uma voz firme para lutar por elas e por seus filhos.

Esse código não é apenas um marco legal, é uma conquista para toda a sociedade, um avanço que coloca o Paraná na vanguarda da luta pelos direitos das pessoas autistas e de suas famílias.”

 

Como tem sido a transição para a Assembleia Legislativa do Paraná e quais as principais diferenças em relação ao trabalho na Câmara Municipal?

“É uma satisfação estar na Assembleia atualmente. Eu costumo dizer que vir para o legislativo estadual é potencializar a nossa capacidade de mudar as coisas. É ampliar o alcance das nossas ações, criar leis que impactem positivamente a vida de muito mais pessoas. Eu estou muito realizada como deputada estadual e pretendo passar muito tempo por aqui para continuar trabalhando por um Paraná melhor.

Antes, na Câmara Municipal, meu trabalho estava focado em Curitiba, e já era chocante ver como nosso estado ainda precisava de atenção para a causa do autismo e de tantas outras pautas sociais. Mas quando cheguei ao legislativo estadual, pude estender esse olhar e esse cuidado para todo o Paraná. Não vou mentir: toda vez que chego em cidades pequenas, é um choque para mim. Se na capital já temos falta de estrutura, no interior a situação é muito pior.

Hoje fico feliz em dizer que sou uma deputada municipalista. Tenho buscado levar essas ações e esse cuidado para todas as cidades do interior do Paraná, onde muitas famílias ainda sofrem com a desinformação, a negação e, em muitos casos, com a falta até mesmo do direito básico ao diagnóstico. Isso tudo me dá ainda mais combustível para continuar lutando. Porque cada mãe que me procura, cada família que enfrenta dificuldades, me lembra que essa luta ainda está longe de acabar – e eu não vou parar enquanto não levarmos dignidade e atendimento a todos os paranaenses, independente da cidade onde vivem.”

Políticas Públicas e Prioridades

A inclusão de pessoas com deficiência e autistas tem sido um tema central no seu trabalho. Como avalia o avanço dessa pauta no Paraná e quais ainda são os maiores desafios?

“Os avanços são gigantes, e a criação do Código Estadual do Autista é um marco sem precedentes no Paraná. Hoje, temos uma legislação robusta, que reúne direitos e políticas públicas essenciais para garantir dignidade e atendimento adequado às pessoas autistas e suas famílias. Mas os desafios ainda são enormes. Conscientizar a sociedade sobre a necessidade de inclusão deve ser um trabalho constante, porque inclusão não acontece apenas por leis – ela depende das atitudes e do entendimento de todas as pessoas no dia a dia.

Fico feliz porque, quanto mais falamos sobre isso, mais as pessoas se conscientizam de que precisamos saber lidar e saber incluir. Seja na escola, no trabalho, nos espaços públicos ou em qualquer ambiente profissional, a inclusão deve ser real e efetiva. Sempre faço questão de reforçar que autismo não é doença. É simplesmente um diagnóstico, que precisa ser tratado, compreendido e, acima de tudo, respeitado.

Por isso, seguiremos disseminando informações e promovendo eventos como os que realizamos anualmente na Assembleia Legislativa. Nosso objetivo é levar conhecimento para um número cada vez maior de pessoas, para que possamos, de fato, viver em uma sociedade mais inclusiva e preparada para acolher as diferenças com respeito e empatia.”

 

Segurança pública e ação social são áreas nas quais você já é atuante. Como essas experiências moldam suas propostas hoje?

“A população precisa de muitas coisas, mas se tem duas áreas que são essenciais e que sempre foram o meu foco, são a saúde e a segurança pública. Esses são os pilares básicos para garantir dignidade e qualidade de vida às pessoas.

Na saúde, minha atuação tem sido voltada principalmente para garantir atendimento adequado às famílias atípicas e para fortalecer a rede de assistência, porque ninguém pode esperar meses ou anos para receber um diagnóstico ou um tratamento. Sei disso porque vivi essa realidade de perto, e essa experiência molda todas as minhas ações nessa área.

Já na segurança pública, essa sempre foi uma pauta prioritária para mim. Como esposa do nosso grande Delegado Francischini, combater a criminalidade, a bandidagem que assola e prejudica a todos, não poderia deixar de ser um dos meus grandes focos. Segurança não pode ser apenas uma promessa ela precisa ser uma prioridade real. E hoje tenho caminhado cada vez mais para centralizar o meu foco de segurança em torno da segurança das mulheres! Esse tem se tornado meu novo objetivo, com tantas demandas de mulheres sofrendo que venho recebido em meu gabinete.

Acredito que saúde e segurança andam juntas. De nada adianta termos hospitais se as pessoas não se sentem seguras para sair de casa, e de nada adianta investirmos em segurança se as famílias não têm acesso ao básico na saúde. Meu compromisso é continuar trabalhando para que esses dois pilares fundamentais sejam fortalecidos, porque só assim conseguiremos garantir um Paraná melhor para todos.”

 

Projetos de geração de renda e economia criativa também estão entre suas bandeiras. O que foi feito para fomentar esses setores?

“Sim, projetos de geração de renda e economia criativa estão entre as minhas bandeiras, mas nosso principal foco tem sido amparar mulheres vítimas de violência, garantindo que elas tenham autonomia financeira para recomeçar suas vidas.

Ainda como vereadora, criei e aprovei o projeto que institui o Banco de Emprego para Mulheres Vítimas de Violência, uma iniciativa essencial para quebrar o ciclo de dependência financeira que tantas vezes mantém essas mulheres presas a seus agressores. Esse projeto já foi expandido a nível estadual, e sigo trabalhando para fortalecer e ampliar essa rede de apoio.

Eliminar esse cordão umbilical entre a vítima e o agressor, que existe muitas vezes devido à dependência econômica, é uma das minhas missões como parlamentar e como primeira vice-presidente da Assembleia Legislativa do Paraná. A independência financeira é um passo fundamental para que essas mulheres possam reconstruir suas vidas com dignidade e segurança, e continuarei lutando para que elas tenham mais oportunidades, proteção e acolhimento.”