Fernando Francischini: da cassação inédita ao retorno à política

ex-delegado concedeu entrevista exclusiva falando sobre o futuro eleitoral e as relações no xadrez político

Fernando Destito Francischini, mais conhecido como Delegado Francischini (Solidariedade), é uma figura emblemática na política paranaense e nacional. Nascido em Londrina, o ex-parlamentar construiu uma carreira sólida na segurança pública antes de ingressar na vida política e é reconhecido como uma das principais lideranças de direita do Estado do Paraná.

Fernando Francischini pretende disputar as eleições de 2026 concorrendo a uma cadeira de deputado federal (Foto: Reprodução/ Redes Sociais)
Fernando Francischini pretende disputar as eleições de 2026 concorrendo a uma cadeira de deputado federal (Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

Com larga passagem pelos poderes executivos e legislativo, atuando em secretarias municipais e estaduais e também como deputado na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) e no Congresso Nacional, Francischini virou notícia em todo o Brasil por ter sido o primeiro político cassado por divulgação de “fake news”, em 2021.

Naquele ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato e o tornou inelegível por oito anos, devido à acusação de propagação de desinformação sobre o sistema eletrônico de votação durante uma live no dia das eleições de 2018. Na transmissão, o então deputado teria alegado, sem provas, que urnas eletrônicas estavam fraudadas para prejudicar o então candidato à presidência Jair Bolsonaro.

A decisão do TSE foi considerada inédita, sendo a primeira vez que um parlamentar teve o mandato cassado por disseminar “fake news” sobre o processo eleitoral, estabelecendo jurisprudência para casos semelhantes.

Como a ação se referia a uma situação ocorrida em 2018, o período de inelegibilidade se encerra no ano que vem. Com isso, Francischini já assegura sua intenção de retornar à política nas eleições de 2026, concorrendo a uma vaga na Câmara dos Deputados. Em entrevista exclusiva ao Politiza, afirmou que sua cassação foi uma tentativa de punir o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e que agora está pronto para voltar à disputa eleitoral.

“Aquela cassação foi para o Bolsonaro. Se ele se elegesse [em 2022], ele iria acabar cassado. Como não foi eleito, ficou inelegível. Se você ler os processos, em todos a jurisprudência usada foi a minha. Então eu fui um bode expiatório para a inelegibilidade do presidente Bolsonaro. Agora eu sei quem é quem em Brasília, sei onde deve ser fiscalizado, sei quem devemos denunciar nacionalmente e internacionalmente. Fui o único cassado sem ser bandido e que vai voltar à Brasília sem medo de nada”, diz Francischini.

Partido Solidariedade na oposição a Lula e filho como concorrente em 2026

O ex-deputado atualmente lidera o processo de reconstrução do Solidariedade no Paraná, partido que ajudou a fundar. Em 2024 assumiu a presidência estadual da sigla e trabalha na formação de novas lideranças visando às eleições de 2026.

Para o ano que vem, Fernando Francischini irá disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados ao lado do filho, o deputado federal Felipe Francischini (União Brasil) e ainda contará com a candidatura de reeleição da esposa, a deputada estadual Flávia Francischini (União Brasil). “Eu convenci o Paulinho [da Força] (Solidariedade) a voltar a ser oposição ao presidente Lula (PT). Todos me questionam porque eu não fui para o PL. Mas veja, estamos formando uma federação que envolva o PRD e o Solidariedade. Uma federação que recoloca o partido na centro-direita”.

Para o ex-delegado, não há problema em entrar na disputa como “concorrente” do próprio filho porque as bases eleitorais e o perfil do eleitorado são diferentes entre cada um dos integrantes da família. 

“Eu converso muito com os dois. Os dois têm individualidades. Flávia tem um mandato mais vinculado à questão do autismo, das pessoas com deficiência. Felipe é um deputado muito municipalista, cuida de cidades e gosta de ter relacionamento com grandes obras que mudam a vida das pessoas. Na questão ideológica eu entro em conversa com os dois. Todos tinham suas profissões. Muitas vezes falam pejorativamente sobre família, mas quando um pai é um bom engenheiro, os filhos se espelham no pai para seguir a mesma profissão. Por isso eu cobro tanto dos dois e a mim mesmo para sermos corretos e termos uma atuação clara. [Com o Felipe] não tem uma disputa. Eu migrei justamente para essa nova Federação para ficarmos em chapas diferentes. Poderiam pensar que estávamos juntos para um eleger o outro, mas o meu voto não serve para eleger o Felipe e a votação dele não serve para mim. Somos candidatos independentes. Meu voto é um voto ideológico, de posicionamento na mídia e de atuação em uma área da sociedade e estou em outra chapa. O meu eleitor é ideológico, o dele é mais municipalista. Nós optamos em que um voto não ajude o outro”, comenta.

Segurança pública como carro-chefe em 2026

Apesar de estar fora da política eletiva, Fernando Francischini assegura que permanece o mesmo homem combativo da época de deputado e que segue priorizando a agenda de segurança pública entre suas propostas. Para o ex-delegado, é preciso ter ponderação sobre algumas políticas recentes, sem deixar a ideologia tomar conta porque o cidadão precisa de decisões mais técnicas e estruturadas.

“Eu vejo como uma pauta técnica, como profissional de segurança. Quem não entende que [a pauta da segurança pública] é um tripé, que é a prevenção, a repressão e as casas de recuperação, não entende o que é combater o crime e o tráfico de drogas. Se você apostar só na polícia firme e forte, você vai continuar matando e não vai acabar com o crime porque ele nasce em cada esquina. Se você não trabalhar na prevenção para evitar que novos jovens entrem para o crime, para o tráfico ou virem dependentes químicos, você não vai trabalhar na linha de financiamento do crime. E se você não trabalhar na recuperação, você tem que entregar as chaves para os bandidos, porque se você não recuperar quem consome drogas, você vai fazendo uma máquina de bandidos. Então, quem não entende esse tripé e acha que ele é ideológico, está enganado. Agora, o grande erro é apostar em só um deles. Às vezes quem está na extrema-direita aposta só na repressão pesada da polícia, às vezes quem está na extrema-esquerda aposta só na questão da recuperação, mais como passar a mão na cabeça de bandido do que recuperação”, opinou Francischini.

Sobre a gestão Lula no quesito segurança pública, o ex-deputado define a atuação como “terrível” e diz que o atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, está mais focado em criar “planos assistenciais para bandidos” do que em fazer uma conciliação entre o judiciário e a polícia. 

“Lula dá exílio para a ex-primeira dama do Peru envolvida em corrupção, mas quando é para dar jurisprudência contra o Bolsonaro, que é prender o [ex-presidente Fernando] Collor, ele fica quietinho. É um governo sem medidas. Não importa se é para direita ou para esquerda, corrupção é uma coisa só”, diz.

Ao falar da proposta que dá poder ostensivo para as Guardas Municipais (GM), Francischini defende maior integração e ressalta que todas as forças se beneficiam ao trabalharem em conjunto. “Eu fui o relator da lei da ‘certidão de nascimento das guardas’. Eu sou a favor de uma integração mais forte entre a Polícia Militar e a Guarda Municipal. A PM continua tendo sua priorização, mas a guarda muitas vezes complementa esse trabalho, atendendo ocorrências de menor potencial ofensivo”. 

Já sobre as instalações das body cams nas fardas dos agentes de segurança, o ex-parlamentar, que já foi secretário de Segurança Pública do Paraná, defende uma utilização para os policiais que atuam no dia a dia das ruas e não nas forças especiais.

“Eu acho que policiamento comunitário tem que ter câmeras nas fardas. Policiamento comunitário é aquele que envolve atendimento ao cidadão e ocorrências básicas, mas os grupos de operações especiais, que vão para decidir ocorrência com assaltante de banco e explosão de caixa eletrônico, eles estão em guerra. Uma câmera na farda vai fazer [o policial] pensar mil vezes entre agir para salvar uma vítima, entre ter uma atuação mais forte contra um criminoso perigoso. As unidades especiais como a RONE e a ROTAM estão indo para lá a hora que a polícia comum não resolve mais. Tem que ter coragem de falar. Alguém que fosse politicamente correto iria dizer que tem que por segurança em todas as fardas. Isso é balela. O cidadão comum quer o bandido da rua preso e não a família dele sequestrada ou ou ente querido morto. Se eu começar a colocar muitas ferramentas em cima do policial que vai fazer esse enfrentamento, ele vai recuar e nós vamos ficar expostos na rua”, complementa o ex-delegado.

Francischini diz que conflitos entre indígenas e ruralistas no Oeste já deveriam ter sido solucionados

Um outro problema social que tem demonstrado a dificuldade em solucionar crises de segurança pública são os conflitos agrários entre ruralistas e indígenas no Oeste do Paraná, principalmente nas cidades de Guaíra e Terra Roxo. Ao comentar as ações da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP) e da Força Nacional, Fernando Francischini diz que se estivesse no comando da forças policiais, já teria reintegrado todas as áreas invadidas e relembrou sua atuação como secretário durante o governo de Beto Richa (PSDB), em 2016.

“Esses grupos indígenas são mais [integrantes do] Movimento dos Sem Terra (MST) do que indígenas. Eles querem regiões enormes que envolvem áreas consolidadas. Tem que definir rápido qual é a área deles. É balela dizer que o indígena está vivendo só do que eles produzem. Eles arrendam as terras para os próprios fazendeiros. Tem que ter secretário que vá lá e faça a reintegração de posse e o governador deixe. Se não fica todo mundo medroso. Se você me coloca na Secretaria de Segurança Pública, eu reintegro todas aquelas áreas. Problema comigo não tem. [Se precisar] reintegrar Centro Cívico, área invadida por bandido ou MST. Graças a Deus o MST está com as perninhas bem distantes do Paraná ultimamente. Nessa questão indígenas envolve Ministério da Justiça e Força Nacional, mas lá merecia uma reintegração rápida para acabar com a confusão. Quando a polícia não entra e não resolve, os indígenas e os fazendeiros se matam e não resolvem. Vira uma [Guerra do] Contestado aquela região”, detalha.

Sergio Moro como candidato ao governo e as disputas na direita para 2026

Sobre o racha entre o Lavajatismo e o Bolsonarismo, Fernando Francischini diz defender as duas bandeiras, mas ressalta que é preciso saber contestar quando necessário. Apesar disso, o ex-deputado assegura que a sua visão política está alinhada ao mesmo viés do que defende tanto o ex-presidente Bolsonaro quanto o senador Sergio Moro (União Brasil).

“Quando o cara é medroso, ele se esconde atrás de uma bandeira, seja da Lava Jato ou do Bolsonarismo. Eu sempre procuro o que é correto. 99% das bandeiras do Bolsonaro eu acompanho, mas não sou cego que vai lá e pula em um buraco escuro. Se eu confio no líder, eu preciso poder contestar. Na Lava Jato a mesma coisa, 99%. Eu fico muito chateado quando criticam a Lava Jato, principalmente com o interesse político de deixar o senador Sergio Moro enfraquecido. Eu sou bem colocado: eu admiro e defendo até hoje a Operação Lava Jato e nem por defender a operação, eu sou contra o Bolsonaro. Eu acho que as coisas andam juntas. Só quem tem interesse em grupos eleitorais que fingem que a Lava Jato não existe ou que o Bolsonaro não fez um grande trabalho pelo país”. 

A disputa para o Governo do Paraná segue aberta e um dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas recentes é justamente o senador Moro. Para Fernando Francischini, o ex-juiz tem o direito de disputar o Palácio Iguaçu e terá o seu espaço dentro do próprio partido para planejar seu futuro político, sem nenhum prejuízo para outras lideranças tanto do União Brasil como do Progressistas, que agora oficializaram uma federação.

“O senador Sergio Moro tem direito de ser candidato a governador. Neste momento se colocam várias figuras políticas relevantes como pré-candidatos a governador: [o presidente da Assembleia Legislativa, deputado] Alexandre Curi (PSD), [o secretário de Cidades] Guto Silva (PSD), o senador Moro, o vice-governador Darci Piana (PSD). Todos têm direito nesse momento. Eu não acredito em um racha partidário que possa prejudicar a eleição do Felipe Francischini e nem do senador Moro”, detalhou.

Por fim, sobre se tornar um player na disputa do ano que vem, Francischini disse estar animado para voltar a causar impacto na eleição. “Eu fiquei muito feliz com uma pesquisa a governador que eu apareci muito bem colocado e até para o Senado. Imagine, eu cassado, em casa, inelegível, muito tempo fora dos debates da mídia. Isso me honra muito. O eleitor ainda se lembra da minha atuação. A gente começa a ser ouvido novamente. Eu quero ter um impacto positivo, ajudar a definir um candidato a governador que possa continuar mudando o nosso Estado. Eu acho que podemos escolher um candidato que possa unir todos esses grupos. Os nomes são muito bons. Esse nome da centro-direita deve enfrentar um candidato da Itaipu, do PT, da esquerda. Torço muito pelos nomes vinculados ao governador Ratinho Junior (PSD) ou o próprio senador Sergio Moro”, concluiu.

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