Europa em nova corrida armamentista para enfrentar a Rússia sem ajuda de Trump

A Europa está passando por uma reconfiguração militar significativa diante da crise na aliança da OTAN, impulsionada pela mudança de postura dos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a segurança europeia esteve intrinsecamente ligada ao apoio militar dos EUA. Contudo, declarações recentes de Trump e do vice-presidente J. D. Vance enfatizaram a necessidade de os europeus financiarem sua própria defesa, especialmente em relação à guerra na Ucrânia.

O anúncio da pausa no compartilhamento de inteligência entre os EUA e a Ucrânia e a reunião entre Trump e Volodymyr Zelensky na Casa Branca reforçaram a urgência para os líderes europeus aumentarem seus investimentos em defesa. Durante um encontro de cúpula na semana passada, os países da União Europeia (exceto o Reino Unido) manifestaram apoio à criação de um fundo de 150 bilhões de euros para rearmamento, com oposição apenas do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, aliado de Trump e Putin.

Alemanha: Rompendo barreiras fiscais para defesa

Friedrich Merz, provável próximo chanceler alemão, destacou a necessidade de uma Europa independente na área de defesa e anunciou um fundo especial de 500 bilhões de euros para infraestrutura militar. A proposta inclui isentar gastos militares acima de 1% do PIB das restrições fiscais rígidas da Alemanha. O país, que forneceu a maior ajuda à Ucrânia entre os europeus, precisa de um acréscimo anual de 30 bilhões de euros para atingir a meta da OTAN de 2% do PIB em defesa, podendo ser necessário um aumento para 3%.

França: Liderança nuclear europeia

O presidente Emmanuel Macron anunciou um aumento nos gastos militares franceses, alertando que a Rússia transformou a guerra na Ucrânia em um conflito global. Macron sugeriu compartilhar a dissuasão nuclear francesa com outros países europeus e aumentar o orçamento de defesa para 3-3,5% do PIB. Atualmente, a França cumpre a meta da OTAN de 2%, mas precisaria de mais 30 bilhões de euros anuais para atingir o novo patamar.

Reino Unido: Prioridade para defesa

O primeiro-ministro Keir Starmer anunciou um aumento nos gastos com defesa para 2,6% do PIB até 2027, financiado por cortes no orçamento de ajuda humanitária. A medida, bem recebida pelo governo Trump, significa um acréscimo de 13,4 bilhões de libras anuais no setor militar. O Reino Unido e a França estão liderando esforços para criar uma coalizão de países que possam impedir avanços russos na Ucrânia.

Desafios e financiamento

Estudos indicam que a Europa precisaria investir cerca de 250 bilhões de euros por ano para equiparar sua força militar à da Rússia. O relatório do Instituto Kiel sugere que esse aumento seja financiado por meio de endividamento público, evitando cortes orçamentários severos. A União Europeia já aprovou um pacote de 150 bilhões de euros para segurança, demonstrando o comprometimento com a defesa do continente.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, declarou que a Europa vive um período decisivo e precisa intensificar maciçamente seus gastos militares para garantir sua segurança em um mundo cada vez mais instável.