O Ministério da Cultura determinou a suspensão temporária das atividades do comitê de cultura do Amazonas e bloqueou seus recursos. A decisão foi tomada após a identificação de indícios de irregularidades na estrutura, que é coordenada por uma ONG ligada à secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura.
Um relatório técnico apontou falhas de transparência, inconsistências e problemas administrativos. A ONG, chamada Iaja, foi alvo de uma análise que levou o ministério a recomendar a paralisação das operações.
Gravação revela possível uso político do comitê
Anne Moura, cofundadora da ONG, foi gravada em uma reunião pressionando um ex-aliado, Marcos Rodrigues, ex-presidente da entidade, para que a estrutura fosse utilizada em benefício de sua campanha eleitoral em 2024. Na conversa, Moura teria citado a secretária Roberta Martins, do ministério, dizendo que os comitês estaduais deveriam apoiar campanhas políticas. O Ministério da Cultura nega a existência dessa orientação.
Disputa interna e acusações mútuas
A presidente atual da ONG, Samara Pantoja, apoiou a decisão do ministério e afirmou que Rodrigues tomava decisões sem consultar os demais membros. Segundo ela, denúncias de assédio moral também motivaram sua exclusão da entidade em dezembro de 2023.
Por outro lado, Rodrigues nega as acusações e alega que todas as decisões eram tomadas com o conhecimento da diretora financeira, Aline Ponchet, e da própria Anne Moura. Ele afirma que “tudo passava pela mesa dela”.
Possíveis irregularidades e envolvimento político
O parecer técnico do ministério, finalizado em 28 de fevereiro, apontou uma série de inconsistências no comitê amazonense. Embora Anne Moura não ocupe um cargo formal na ONG, seu nome aparece em agendas oficiais, conteúdos da entidade e em cargos de confiança dentro da estrutura.
Além disso, pessoas que trabalharam em sua campanha para vereadora em 2024, como Aline Ponchet e Paulo Moura, fazem parte da ONG e do comitê de cultura. Apesar dessas conexões, o parecer técnico ressalta que Anne Moura “não tem autoridade formal para interferir nas ações do comitê”.
Recursos públicos e investigações em andamento
A ONG Iaja, responsável pelo comitê no Amazonas, receberá um total de R$ 1,9 milhão em verbas federais e estaduais. O ministério também levou em conta denúncias feitas por Marcos Rodrigues e contra ele. O ex-presidente da ONG afirma que havia um esquema de desvio de verbas para beneficiar um grupo político, enquanto aliados de Anne Moura o acusam de irregularidades e assédio moral.
O relatório recomendou a paralisação imediata das atividades do comitê para garantir a transparência e avaliar a continuidade da parceria. Em nota, o ministério afirmou que, até o momento, “não foram identificadas irregularidades” oficialmente, mas reforçou que as investigações continuam. A pasta prometeu implementar medidas para assegurar a boa gestão dos recursos públicos e garantir a imparcialidade do comitê.
Reportagem escrita com base na denúncia do Estadão.