Governador do Paraná publicou mensagem exaltando o colega gaúcho após filiação ao PSD
O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), usou as redes sociais nesta sexta-feira (9) para recepcionar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, em sua nova legenda. Leite oficializou sua saída do PSDB e agora passa a integrar o PSD, após semanas de articulação política e negociações visando 2026.

“Eduardo é um homem com uma capacidade peculiar de gestão e que se mostrou um líder no processo de reconstrução do Estado após as enchentes. Seu papel foi fundamental na reorganização das contas gaúchas. Seja bem-vindo, Eduardo Leite. O Brasil precisa de homens e mulheres que apostam no diálogo, que têm compromisso com o social e que são incentivadores da harmonia política”, escreveu Ratinho Junior em seu perfil no Instagram.
A postagem é um gesto de apoio político e também uma sinalização clara de que Eduardo Leite chega para somar às fileiras do PSD, sem necessariamente causar embates ou rachas dentro da legenda comandada por Gilberto Kassab.
Esse movimento do governador gaúcha confirma que está definitivamente rompida a relação com o PSDB — partido ao qual dedicou mais de duas décadas de sua vida pública. A saída de Leite é simbólica: ele era uma das últimas lideranças com projeção nacional a permanecer na legenda.
PSDB: Um partido em queda livre
A saída de Eduardo Leite se soma a uma série de baixas que vêm enfraquecendo o PSDB nos últimos anos. O processo de esvaziamento da sigla se acelerou após a eleição de 2022, mas tem raízes mais profundas — que remontam à crise de identidade e à dificuldade de se posicionar diante da polarização política entre lulismo e bolsonarismo.
Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, deixou o partido no início de 2025 e levou consigo uma série de prefeitos do Estado que migraram para o mesmo PSD. O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, também tem sido alvo de especulações sobre uma possível desfiliação — o que, se confirmado, esvazia a presença do PSDB entre os chefes de Executivos estaduais.
Além das saídas de governadores, o PSDB perdeu cadeiras no Congresso, viu seu desempenho nas urnas minguar em grandes centros urbanos e teve seus diretórios estaduais desmobilizados em diversas regiões. Em São Paulo, tradicional reduto da legenda, o ex-governador Rodrigo Garcia também se desligou do partido, e a força tucana nunca mais foi a mesma desde a saída do hoje vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e, também da desistência do então governador João Dória (PSDB) de lançar candidatura ao Planalto em 2022.
A federação com o Cidadania e a busca por fusão com o Podemos
Diante do encolhimento nas urnas e da perda de protagonismo nacional, o PSDB firmou em 2022 uma federação com o Cidadania — uma aliança formal que obriga as duas siglas a atuarem juntas por pelo menos quatro anos. A federação garantiu sobrevida à legenda no Congresso, mas não foi capaz de conter a sangria de quadros importantes nem de renovar sua imagem pública.
A união acabou gerando mais atritos internos do que avanços. O PSDB segue sem conseguir se reposicionar no cenário nacional, e vê partidos como o PSD, PSB, União Brasil e MDB ocuparem o centro político com mais articulação e presença regional.
Hoje, a principal aposta para o futuro da sigla é uma já anunciada fusão com o Podemos, que vem sendo articulada nos bastidores como alternativa para manter acesso ao fundo partidário, ampliar bancadas e garantir presença relevante nas eleições de 2026. Se confirmada, a fusão significaria o fim da legenda tucana como ela é conhecida há mais de 30 anos, inclusive com a perda do histórico número 45 nas urnas.
PSDB lamenta saída de Eduardo Leite
Apesar da saída de uma de suas principais lideranças, o PSDB divulgou nota oficial demonstrando respeito à decisão de Eduardo Leite. A legenda afirmou lamentar o momento da desfiliação, justamente quando, segundo o texto, o partido atravessa um processo de reconstrução e fortalecimento com vistas a liderar novamente um projeto nacional de centro. A sigla ressaltou que o governador gaúcho participou ativamente das discussões internas e chegou a votar favoravelmente à proposta de fusão com o Podemos — movimento que vem sendo articulado como estratégia para ampliar a presença tucana no Congresso e nas disputas majoritárias de 2026.
“O Brasil precisa voltar ao caminho da responsabilidade fiscal, da modernização da máquina pública e da sensibilidade social, longe dos extremismos e do populismo”, afirma a nota. O partido também relembrou sua trajetória de protagonismo político, com ênfase no legado da redemocratização, no Plano Real e nas reformas institucionais implementadas nos anos 1990. “Desde a sua fundação, o PSDB nunca escolheu o caminho mais fácil, mas o mais coerente com nossos princípios e valores”, diz o texto. “E por mais árdua que possa parecer a travessia, resistiremos com força, fé e com a certeza de que o Brasil ainda precisa do PSDB.”
Um passado que não garante mais o futuro
O PSDB chegou a ser o principal partido de oposição ao PT nas décadas de 1990 e 2000, com destaque para os dois mandatos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso (1995–2002). Foi também protagonista em disputas presidenciais contra Lula e Dilma Rousseff, e dominou governos estaduais como São Paulo por mais de 25 anos.
Hoje, porém, o partido enfrenta um processo de esvaziamento que vai além das urnas: trata-se de uma crise de identidade, de representatividade e de perspectiva. Eduardo Leite, que por muito tempo foi visto como a grande aposta tucana para renovar a imagem da legenda, optou por sair.
Sua desfiliação tem peso político e simbólico, e marca o possível fim de uma geração de líderes que ainda acreditavam numa reconstrução tucana a partir do centro.
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